Essa categoria (vamos dizer assim) dentro da literatura, ainda é bastante discriminada. A chamada literatura de entretenimento é aquela voltada para as massas, de mais fácil compreensão e que tem por finalidade entreter.
Claro que aqui não estou falando de uma qualidade questionável, de obras mal escritas ou algo assim. Da mesma forma que quando algum defensor da música popular não está enaltecendo a produção musical da Calcinha Preta (me desculpem os fãs!), e sim o bom samba de Cartola e Martinho da Vila ou a MPB de Chico Buarque e Elis Regina.
Esse é um dos motivos pelo qual eu tenho tanto prazer em ter um espaço como esse para compartilhar, criar, divulgar, debater e conhecer tantas novidades no campo da literatura. Querendo ou não, é a internet o carro-chefe de todas essas mudanças nos últimos anos e, até onde eu posso imaginar, nos próximos também.
O surgimento dos blogs, de sites culturais colaborativos e das redes sociais deu voz a uma geração de escritores jovens, que encontraram na internet um canal poderoso para divulgar seus trabalhos e expressar suas ideias. Falar de literatura de entretenimento, portanto, tinha tudo a ver com aquele momento [2003 e 2004], pois foram anos ricos de debates e de propostas sobre novos rumos para a literatura brasileira. (MATTA, Luis Eduardo. A literatura de entretenimento brasileira e as novas tendências literárias)
Claro que eu leio e gosto de muitos autores da literatura clássica, como Aluísio de Azevedo e Jorge Amado, mas sei que nem sempre estes são os autores ideais para se começar a tomar gosto pela leitura. Ler tem que ser encarado como uma atividade que se aprende a gostar. Tem que ser algo que dá prazer, e não um fardo, uma obrigação.
Sou professora e vivo em ambientes escolares há alguns anos e digo que a maioria dos alunos não gostam de ler mesmo, mas não gostam de ler aquilo que os professores selecionam para a leitura. Essa imposição descontextualizada, na minha opinião, é um erro. Desmotiva a molecada já na linha de largada. Tem que aproveitar o que eles leem.
É aquilo que falei há pouco sobre a mudança constante a que estamos submetidos. É preciso ter jogo de cintura. A juventude de hoje não é a de ontem, então não dá pra requentar as fórmulas. Mesmo porque o aluno, óbvio, se identifica com o jovem atual muito mais do que com o jovem do século XIX retratado nos clássicos adotados nas escolas. As mudanças no padrão de comportamento da sociedade foram imensas. Para as meninas então, foram vertiginosas. Claro que os temas ainda são bastante atuais, mas a abordagem mudou significativamente.
Voltando a O senhor dos anéis e a Harry Potter [que estão entre os livros mais vendidos no mundo], um fato curioso a ser observado é que o público leitor dessas narrativas compõe-se, em sua maioria, de adolescentes e pré-adolescentes, aqueles mesmos que costumamos dizer que “não gostam de ler”. (CALDAS, Florêncio. A literatura de entretenimento e o ensino de literatura). |
Não é necessário tanta elitização assim. Há espaço para todos com certeza. Aceita que dói menos, a indústria literária existe e ela se movimenta a todo vapor.
Li um artigo bem bacana do Luis Eduardo Matta em que ele dizia que “ao longo do tempo fomos construindo [...] uma aura de deferência em torno do ato de ler, como se este fizesse parte de um verdadeiro ritual religioso de ode ao conhecimento e à grandeza da alma e da mente”. Concordo que há muito exagero. Acho que na verdade ler pode ser também um simples momento de lazer, de relaxamento, uma forma de ocupar o tempo. E com certeza isso também nos trará algum aprendizado.
Mas eu estou contente com os rumos que a literatura brasileira vem tomando nos últimos tempos. Muita coisa boa e nova está pintando por aí. Acredito até que não demora muito poderemos contar em nossas estantes com tantos livros nacionais desse gênero quanto internacionais. Porque se hoje consumimos predominantemente da indústria literária gringa, é porque ainda nos faltam opções aqui. Mas isso deve mudar. Parece ser o caminho!
Nesse mês de fevereiro o tema será “volta às aulas”. Até por isso comentei sobre a literatura nas escolas. Semana que vem tem um thriller do Jon Fasman já relacionado com essa nova temática. Não percam!
Janeiro foi o mês da “viagem no tempo”. Quem perdeu vai lá dar uma olhada que tem dois livros resenhados e um texto sobre o assunto.
Um super beijo!
Até a próxima semana...