Este livro é composto por “Aventuras de Alice no país das maravilhas” e “Através do espelho e o que Alice encontrou por lá”. Eu vou falar sobre o primeiro.
... espiara uma ou duas vezes o livro que estava lendo, mas não tinha figuras nem diálogos, “e de que serve um livro”, pensou Alice, “sem figuras nem diálogos?”.
Por conta desse tédio, quando um coelho branco passa correndo nervoso e dizendo “Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!” e tira um relógio de bolso do colete Alice não se dá conta da estranheza da situação e o segue. Ele entra na toca e ela, ao tentar espiá-lo, cai num imenso buraco que parece não ter fim.
Como tudo neste livro, as coisas mais absurdas são tratadas com a mais perfeita naturalidade. A queda no buraco seria uma viagem de Alice ao seu subconsciente, por isso a falta de aparente sentido em tudo o que ela vê ali, com elementos bastante desordenados.
... depois olhou para as paredes do poço, e reparou que estavam forradas de guarda-louças e estantes de livros; aqui e ali, viu mapas e figuras pendurados em pregos. Ao passar, tirou um pote de uma das prateleiras; o rótulo dizia “GELEIA DE LARANJA”, mas para seu grande desapontamento estava vazio: como não queria soltar o pote por medo de matar alguém, deu um jeito de metê-lo num dos guarda-louças por que passou na queda.
Quando ela enfim encontra o chão o tombo não dói nada e, apesar de todas as coisas surpreendentemente fora do normal que encontra ali, Alice resolve explorar tudo.
Tal qual acontece com todos ao entrar na adolescência, dá-se grande importância ao tamanho. Durante a história, Alice aumenta e diminui de tamanho muitas vezes. Às vezes querendo ser maior, às vezes querendo ser menor.
... dessa vez achou lá uma garrafinha [...], em cujo gargalo estava enrolado um rótulo de papel com as palavras “BEBA-ME” graciosamente impressas em letras graúdas. [...]
“Que sensação estranha!” disse Alice; “devo estar encolhendo como um telescópio!”
E estava mesmo: agora só tinha vinte e cinco centímetros de altura e seu rosto se iluminou à ideia de que chegara ao tamanho certo para passar pela portinha e chegar àquele jardim encantador.
“Agora estou espichando como o maior telescópio que já existiu! Adeus, pés!” (pois, quando olhou para eles, pareciam quase fora do alcance de sua vista, de tão distantes).